Aprendi com as formigas!


    Acabei de ver duas formigas hoje tentando subir na parede e fiquei a observá-las;   Por minutos  As duas subiam com uma fagulha de pão ás costas, me dando a impressão de que o peso para elas comparava-se a uma enorme montanha.  Ao observá-las  mais e mais eu me prendia e me rendia aos encantos daquela situação, não somente das duas formiguinhas mas de todas que faziam o trajeto . As formiguinhas  desciam já livres de suas cargas e gentilmente desviavam do caminho, parecendo entender o sacrifício das duas que subiam, e estas coitadinhas davam o seu Maximo, o seu  possível , o seu limite e até o seu impossível  para conduzir aquela enorme e pesada faísca de pão! Por vezes seguiam em linhas reta uma a frente puxando e a outra atrás segurando, às vezes parecia estar preso ao chão, aquele minúsculo pedacinho de pão e tamanho era o esforço que faziam pra movê-lo do lugar que elas rodavam com as perninhas no ar, sem soltar as garrinhas do tão necessário, precioso difícil e sagrado alimento, e  assim elas arduamente continuavam a sua luta e esforçada caminha e tinha horas , que a de traz até voava em circulo para substituir a que  puxada  na frente trocando de lugar e como que por encanto andava de ré, ai eu observava e imaginava ; Assim teria que ser a sociedade!  Fazemos muito o nosso papel que ás vezes e apenas seguir em frente, não paramos pra olhar aquele que vem tentando  chegar, de ré,  em circulo, se arrastando,  voando ou até mesmo dando cambalhotas, existem muitas pessoas ao nosso lado com suas limitações e dificuldades fazendo suas peripécias pra sobre viver, e as vezes mesmo estando tão próximo a nossa solidariedade não supera a dos animais até mesmo daqueles minúsculos bichinhos. Achamos difícil colaborar ou ceder o nosso lugar! E assim com as formigas eu me encantei tanto que não conseguia parar de observá-las.  Naquele trajeto elas caminhavam ao inverso, parecia  mais um dança louca noutras vezes voavam em círculos invertendo os seus lugares no desempenho de seus papeis, pequeninas operárias fraternas  e justas  na necessidade e obrigação de seus deveres, o desejo de viver, sobreviver era maior que  ás dificuldades encontradas no caminho! '' Quero dizer amigo; Que mesmo aqui devagarzinho em pro da nossa sobrevivência temos que fazer o que tiver que ser feito, não importa se teremos que inverter os papeis,  andar cambaleando, saltando em circulo ou de ré, talvez as nossas cambalhotas comparadas as da formigas não seja tão sacrificantes se levarmos em conta o seu minúsculo tamanho, elas nos ensinam e tanto! Chego a imaginar que sua cabeça quase inexistente e mais sabia que a nossa  e o seu exemplo de justiça,  luta e garra que nos superam e muito! Por exemplo;  Exercer um gesto de amor companheirismo, ser fraterno ajudar um idoso atravessar a rua, não temos que caminhar de ré pra exercer essa bondade, nem temos que dar saltos maiores que nosso corpo pra conseguir um pedaço de pão''O importante e querer chegar ao objetivo certo. Sem que sobre carregue, explore ou sejamos injustos com nosso próximo diante  desta lição devemos e nos perguntar; Nós como família estamos nos portando como as formigas? Somos solidários com quem esta ao nosso lado dividindo espaço e tarefas? Muitos adultos vivem como se a mãe fosse á empregada e o pai o seu escravo afirmam que a obrigação e toda dos pais porque não pediram pra nascer  e normal se ouvir isso hoje em dia, de filhos que nem mesmo arrumam suas camas, e como sociedade? Somo-nos iguais ou melhores que as formiguinhas? Estamos dando vez, passagem e oportunidades para que as pessoas consigam se superar e alcançarem seus objetivos? Não precisamos nós questionar muito pra saber que no meio do caminho de muita gente existe sempre um obstáculo, uma pedra ou ate mesmo pior que isto o mais cruel dos sentimentos o egoísmo que ainda e um fator primordial que leva muitos a se esquecer do outro e pensar só em si esquecendo o mandamento cristão  amar ao próximo como a si mesmo.  E qual e o próximo mais próximo de nos? Senão nossos pais,  parentes e vizinhos? Qual o próximo mais próximo de nos senão aquele que amanhece ao nosso lado divide o mesmo espaço  trabalhos e responsabilidades? Na lição das formigas isso e bem claro nas duas que juntas procuravam o melhor ângulo e espaço pra garantir o seu sustento elas se viravam no que podiam  andavam pra frente, de ré, em circulo e até voavam, trocavam de lugar, mas em nenhum instante foram individuais. Nisso fica o exemplo se duas pessoas, parentes ou não convivem no mesmo espaço  e natural dividirem as tarefas  e obrigações já diz o ditado;’’ Uma andorinha só não faz verão!’’ assim como as formigas devem se espelhar a família, comunidade e sociedade, enfim assim deveria ser a lição a todos os seres humanos que na maioria se julgam grandes e inteligentes, mas que o seu intelecto só age e veem em  prol do seu próprio umbigo.
 Esta foi  a lição que aprendi eu aprendi com as duas formigas hoje.

Marlucia Divina da Silva 

‘’Papai Zé Candido e Mamãe Julia’’! Na fazenda cachoeirinha em Minas GERAIS.



Eu sempre fechava os meus olhos quando eu sentia que  algo não estava bem ou até mesmo quando eu fazia alguma arte! Fechar os meus olha  era uma forma que eu tinha de mentalizar os agraves da situação e chamar por Deus! E quando fazia isto também era amor que eu queria! Na casa de mamãe Julia eu nunca precisei fechar os olhos, para sentir Deus e seu amor! Ele estava estampado no sorriso de meus avôs e de minha querida tia Fátima. Quando as pessoas não se fecham em si, se doam o amor acontece, e isto e deus porque ele e amor. E quando eu fazia uma arte  e que não era pouca! E brincava com tia Fátima e com papai Zé Candido, eu sentia que mesmo aos treze anos poderia  recapitular toda minha infância sofrida, perdida e abandonada, era como se eu voltasse aos seis anos de idade, e começasse tudo outra vez! Desde aquele dia que sai da Cachoeirinha! Ali onde ali eu era feliz.
De manha tia Fátima ia pro Frigorífico, mamãe Julia ia vender ovos na vila, mas antes de sair me dava uma tarefa;

__Cate todas as piolas de Zé Candido, que eu te pago por elas, ela não gostava de cigarros e eu não catava só as do dia eu vasculhava em toda área, passava um pente fino no terreiro, nos buracos das  paredes, porque ele escondia quando ela reclamava da fumaça, e papai Zé Candido ate me ajudava a encontrar umas que ele escondia nos seus lugares mais secretos, e eu podia assim garantir o dinheirinho da merenda na escola. Assim a vida continuava prazerosamente, eu matava os pintinhos das galinhas pra brincar de casinha com Tia Fátima e fazermos galinhada, na bica da tia Isaura enquanto mamãe Julia não voltava da vila. Um dia ela nos pegou na fraga eu já havia depenado todos os pintinhos a bacia estava cheinha de cadáveres infantis de galinhas quando ouvi o grito apavorante de tia Fátima;
_­_ Marluce! Mamãe ta chegando esconde os pinto! E eu não tinha alternativo o jeito foi escondê-los debaixo da cama, mas tudo deu certo depois consegui pegar a bacia de pintinhos já mortos e já depenados e levar pra bica onde tudo acontecia, ao som do radinho ligado e bem alto! Os banhos as brincadeiras, e a farofa de galinha, ou melhor,  dizendo de pintinhos quase franguinhos  pois não era uma nem outra coisa  estavam  na adolescência passando de franguinhos pra quase no ponto. Às vezes conseguíamos galinhas de verdade as do seu Lazaro que vinham ciscar as plantas de mamãe Julia então eu não pensava duas vezes e a peraltice era certo,  eu não ouso falar aqui de roubo, porque não era uma espécie de troca o Zezinho filho dele pegava as galinhas da minha avó e além disso ainda me batia no caminho da escola, e me segurava pro seu irmão Henrique me bater, graças ao meu primo Moacir que me salvava eu Não apanhava tanto, não sei porque tinham tanta raiva de mim eu não fazia nada acho que era porque brigavam com meus primos e apanhavam então descontavam em mim, bem voltando as galinhas, eu tinha motivo de sobra pra mata lãs e  da o’’ troco’’ no Zezinho que me segurava pro outro me bater, eu deixava elas ciscar bem, ai eu dava meu bote pra pega-las elas eram bem gordas e  eu só precisava de mais força pra puxar os pescoços imaginem uma panela da galinha caipira com pimenta baianas das rochas   tiradas  no PE,  colorau e cheiro verde, apanhados na hora nos canteiros da horta de Papai Zé Cândido! Bem pegávamos as galinhas do seu Lazaro, em contra partida as da minha avó, que iam ciscar na horta dele também sumiam misteriosamente e não voltavam então ficava como uma troca, só que estas peraltices era um segredo meu e da tia Fátima, minha primas  Salete e Sueli nem imaginavam!  Acho que elas pensavam que as galinhas eram de mamãe Julia, então íamos felizes brincar de casinha na bica, na mina, no serrado e cada vez a galinhada ficava mais farta se não tinha galinhada  pra depois dos banhos na bica não tinha graça e na maioria ficava por minha conta e de tia Fátima, vez em quanto por conta de minhas primas, bem se elas pegavam galinhas escondido de tia Isaura, ou pegavam do seu Lazaro  eu não sei , mas as nossas eram conseguidas com muita astucia e sabedoria, bem quando eu não conseguia galinha ou não tinha força de puxar o pescoço delas então eu puxara dos pintinhos graúdos aqueles que  já estavam quase virando franguinhos, a idéia de uma galinhada ou farofa de galinha surgia no estalo, então púnhamos em pratica e nos divertíamos, brincar de casinha com musica no radinho e galinhada. De manha o dia  começava sorrindo os pássaros cantando nas laranjeiras, a cama tão gostosa que a vontade era, ficar ali apreciando o canto da variedade em espécies. Papai Zé Candido, ia buscar leite na fazenda do senhor Abatênio Marquês, quando chegava ascendia o fogo fazia o café fervia o leite e só então me chamava, com aquele meigo sorriso e doces palavras: Acorda Lucinha! Só então eu me levantava, ouvindo o loro a cantar o rio de piracicaba, tão alto que abafava o coro da orquestra dos pássaros  e no fogão de lenha havia dois pratos de escaldado quente  eu e papai Zé Candido parecíamos dois gatos em cima do fogão, esquentando do frio e tomando escaldado de leite. Meu vozinho papai Zé Candido já com a idade avançada e eu com catorze anos, mas o tempo não nos distanciava pela idade nossa felicidade de avô e neta era de igual,
por igual nos dois, parecíamos duas crianças, às vezes ele raiava comigo, pois eu não resistia a um jerimum cozido e comia as abóboras que ele caprichosamente cozinhava pros porcos, pois elas eram bem lavadas e cozidas com muito anseio! Por isso eu achava gostoso, papai Zé Candido raiava comigo e me chamava de porquinha, mas em suas broncas, ele deixava sempre um meigo e terno sorriso escapar, de seus lábios me olhava dentro dos olhos e dizia:

__ Lucinha, Lucinha! Você não tem jeito! E ele punha um sorriso em cada palavra e eu o admirava, admirava! E a expressão do seu rosto terno a me olhar era como se dissesse em cada gesto do seu semblante o quanto me amava. Quando as pessoas não se fecham o amor age e não a necessidade de palavras, porque ele se revela em doação. Hoje estão no paraíso'' quem me amou como avôs me deram carinho, cuidados, proteção e amor de verdadeiros pais''. Mamãe julha e papai  Zé Candido.

Marlucia Divina da Silva 

Memoriasdelucinha




Antes de começar esta historia, me questionei com palavras que por inúmeras vezes ouvi, e não somente de uma pessoa, mas varias que já me perguntaram: Porque escrever uma historia lembrando acontecimentos ruins, quando e mais fácil falar de coisas boas? Eu também concordo que devo sim, esquecer as tristezas vividas e seguir em frente, mas não devo e nem quero deixar de falar e refletir sobre elas. Não posso dizer que tudo passou, passado e passado e o que importa e presente e futuro, e lógico que isto importa, mas o que eu vivi e o reflexo de minhas ações e do que eu sou hoje! E só haverá um futuro se eu souber viver o hoje! Não posso Continuar uma historia apagando um tempo, que além de tristes verdades, tirei dele bons ensinamentos, reflexões e aprendizado. Se hoje estou em um tempo melhor e porque obtive vitorias. Diria que compreendo bem as palavras da bíblia quando diz: Purificado como ouro no crisol. O sofrimento tem vários aspectos, característica dos nossos anseios e necessidades, por isto não há como evitar as coisas ruins do viver, de uma forma ou de outra sofreremos, ai me pergunto: Não falar do meu sofrimento passado, evitará meus sofrimentos no presente ou futuro? E lógico que não! Estarei sempre desejando alguém ou algo, se serei correspondida aos meus anseios, não há como saber! Eu não tenho bolinha de cristal, pra ver se terei sofrimentos piores ou não, isto só Deus pode saber. Embora eu tenha começado a escrever no presente, não há como passar uma régua em tudo que eu vivi, haverá sempre á necessidade de voltar atrás e analisar o que foi bom e o que não foi, onde eu falhei e que aproveitamento isto terá para mim e meu semelhante? Sem que as coisas ruins continuem a acontecer com outros inocentes, por conseqüência de meu egoísmo, orgulho, omissão, preconceito e indiferença, e depois quem me garante que se nascermos em uma família perfeita recebendo carinho, cuidados amor, saúde, alimentação e educação, que mesmo assim não teremos a enfrentar outro tipo de dor? Como por ex: Vier a sofrer um acidente, levar uma bala perdida, e perder um ente querido? O que eu quero dizer e que: Se tudo conosco for bom, perfeito, como poderemos entender o que fere e avaliar as dores alheias? E depois se eu não entender o sentido da vida, de que sempre existe uma forma de sofrimento, não há razoes em lutar, por causa e objetivo algum, muito menos acreditar que a vitoria, e apenas conseqüência dos sonhos, porque não e. Eles são fundamentais quando se deseja a vitoria, mas para que ela aconteça e preciso alem de sonhos, garra, luta Fe, esperança e sacrifício. Voltar ao passado e ir ao recomeço, para entender o que somos hoje e porque, por mais que tentamos sermos bons, humilde, caridosos, não conseguiremos por inteiro, porque não recebemos o que deveria ter recebido por inteiro, eu não tenho apenas certeza, mas sim a plena convicção de que foi o pouco de amor, bondade, e caridade que eu recebi de meus avôs, que serviram pra ser o que eu sou hoje, não me considero perfeita, pois se eu disser que sou já estarei cometendo um grave erro, tento ser humana, e dar o Maximo de mim pra ver acontecer á felicidade e a paz. Por outro lado se eu me esquecer e não der o bastante terá sido invalido o meu aprendizado! Por isto olho para traz e respondo a estes tipos de perguntas e questionamentos: Eu não tenho receio de escrever sobre as minhas memórias, que na maioria foram tristes e feias, porem houve um tempo pequeno, mas eterno e significativo, o suficiente pra superar todas as coisas ruins que eu viesse a enfrentar depois. E este, era o tempo dos meus sonhos! Tempo que eu amava cantar, incentivada por minha tia! Lembro-me que aos domingos ela me levava pra cidade, pra que eu me apresentasse na radio platina de Ituiutaba e, enquanto o final de semana não chegasse rápido, eu punha o meu vestidinho, vermelho bem rodado, e com lindo bordadinho no peito, de borboletas, pairando sobre as flores amarelas! Vestida para uma festa, eu me punha á frente da casa de meus avôs, naquele espaço enfrente ao jardim com lindas roseiras, ali era o meu eterno palco, as paredes de pau e rebocadas com barro e cinza, o pequeno jardim, com variedades de margaridas, cravos, boa noite e pingos de ouro, formavam uma linda coxia harmônica, ao perfeito cenário natural da estrada, enfeitada de um lado ao outro com pés de amora, goiaba e manga, a estrada era o meu teatro sem cadeiras, aonde pessoas iam e viam, na imensa passarela, de terra vermelha. Eu esperava ansiosa que todos que passassem naquela colônia, pudessem me ver e bater palmas, dizendo em sorrisos e aplausos: Que graçinha, que encanto de menina! Tempo este em que eu era feliz, tinha os meus pais, meus irmãos, avos, primos, tias e toda família por perto, uma criança que sonhava e nada me impendia de fazer isto! Os meus sonhos vinham do alto, voando no colorido das aves, tinha a beleza das matas o cantarem dos pássaros, o verde das flores que cresciam nos regatos, irrigados pelas correntes das águas claras, e tranqüilas da Cachoeirinha. Águas que brotavam das fontes naturais, descendo nos regos e córregos enchendo as minas açudes e represos, escorrendo na bica onde tomávamos banho ao som do radinho de pilha, eu minhas primas e minha tia! A terra me refrescava com seu clima cheiroso, fresco e úmido, causado pelo orvalho das manhas, e o arco íris em sertãs tardes, era o bordado que ligava os meus sonhos de uma extremidade á outra da terra. Sonhos que me inspirava o terno e suave calor do sol, que por tantas vezes admirei, os seus raios dourados iluminando o imenso serrado, de paineiras brancas, levadas pelo vento feito flocos de neve a embalar os meus sonhos, com pensamento adoçado pelo cheiro das frutas silvestre, gabirobas barus e jatobás. Sonhos que também me despertava a imaginação mágica e brilhante da noite, quando eu servia de vela ao namoro de minha tia do meu tio João. Enquanto se beijavam apaixonados, ouvindo musicas românticas do rei, eu me sentia não só uma vela, mas um imenso farol, então disfarçava procurando uma estrela cadente e contando as estrelas no céu. Tudo era mágico o casal de namorados, os meus desejos e a estrela cadente! Havia tantos sonhos em minha pequena mente! Tantos desejos, fundamentados na minha vontade de cantar, dançar e representar. Lembro-me que antes que a estrela caísse, eu já tinha os pedidos formulados em meu coração, eu pedia a estrela cadente e pedia com Fe, o beijo dos namorados se alongava enquanto eu procurava ás três Maria e contemplava a estrela do cruzeiro do Sul, o beijo se estendia e disfarçadamente eu fixava o meu olhar na mágica e romântica imagem da lua, com a sua magia de representar a força do amor, capaz de superar tudo, vence barreiras e obter a vitoria sobre o mal! Como a um sonho deslumbrante, era a visão real que pairava entre a minha mente e o meu imaginário infantil. No cenário das estrelas e da Lua que eu admirava no céu, não existia palavras que traduzissem e interpretassem tamanha, beleza e formosura! Tudo se resumia numa enorme força, tudo era tão mágico, infinito e forte, entre o meu olhar e o céu! Eu via o próprio reflexo desta força como á um espelho, assim me refletia a lua com a imagem de São Jorge montado em seu cavalo branco empurrando a lança, sobre a boca feroz de um enorme dragão! Era o que os adultos nos diziam, e olhando a imagem não havia porque duvidar tudo era tão nítido! Eu nunca tinha visto um filme, e ao contemplar a lua cheia, era como se eu assistisse a melhor sena, da vida e sua luta diária, movida pela magia do amor, onde o bem sempre prevalece. A vida na cachoeirinha era assim; Como a mensagem que me passava imagem da lua! De lutas, e amores sonhados, desejados, idealizados, eternos, predestinados e arranjados também. Amores rápidos, mas que suas raízes cresceram e multiplicaram-se; Em novas vidas e amores, alegrias e desamores, que começaram nas festas de santos e nos bailes no terreiro, na casa de tia Isaura e à frente da casa de Mamãe Julia e papai Zé Candido. Quantos amores em que o tempo e o céu foram o único guardião e telespectador dos segredos? Eis a cachoeirinha dos meus sonhos e encantos e de minhas lembranças, onde em mim só plantou a esperança! Desde o cantar do galo, aos pássaros cantando nas arvores, do por do sol a rotina das pessoas tudo e todos, natureza, pessoas e até o menor dos seres vivos, um simples louva deus que eu pudesse enxergar, fazia parte de um só elo, em que tudo a minha volta fosse necessário existir, pra que eu pudesse sonhar! A rotina do dia a dia, o brejo com suas variedades de verduras, que cresciam vistosas, pelas águas abundantes que escorriam entre os canteiros. Lembro-me da mina de água doce e transparente, os pés de banana maçã com as frutas ao meu alcance, a cerca onde eu parava no portão a contemplar o brejo e a minha visão pairava logo abaixo do pomar, numa imagem bela e majestosa que se tornava ainda mais perfeita
pela á visão que eu tinha do meu avô o sinal de amparo, proteção e amor e no seu rosto brando, sereno e humilde, eu podia ver o reflexo da esperança, que trasbordava de sua imagem e gestos, enquanto ele me olhava e sorria me dizendo: Venha cá Lucinha! Mas cuidado pra não escorregar! A maneira que ele se aproximava o vento me soprava no rosto, trazendo-me o cheiro do homem simples do campo sua proteção carinhosa ao mesmo tempo em que ele fazia a colheita das verduras, num cuidado constante que por muitas vezes eu senti em cada beijo, sorriso, abraços e palavras de um homem humilde de fé e esperança, que por longos anos, lidava com as plantas e os animais, e orientava a família em terra vermelha de Minas Gerais! Seu carinho era como o doce das frutas que colhíamos no pomar, sua bondade se estendia a todos os filhos e netos! O seu suor sagrado nos garantia o alimento que era farto para corpo e o amor recebido alimentava a alma e aquietava o espírito. Tudo era tão belo! A sua imagem serena acolhedora frente à mata, embalados por um canto, de perfeito som, o barulho das águas, o canto dos pássaros e algazarras dos macacos, que pulavam nas folhagens das arvores, os pássaros compunham uma majestosa orquestra, enquanto os meus olhos inebriavam pelo encanto que eu via, meu coração pulsava radiante, com tamanho encanto e fascinação!
Tempo este em que me era rico, o paraíso da minha infância, e pra que, eu sonhasse só me bastava continuar ali onde não faltava o alimento do corpo, que cheio de humildade doação e ternura, era regado ao alimento da alma, o amor! Tempo vivido por mim apenas ate os cinco anos, porque der repente eu me vi retirante! Sem direito e sem escolha! As coisas aconteceram, laços se romperam, e eu me vi suspensa no mundo, e em outra extremidade da terra, eu já me encontrava, só e muito longe dali, com pessoas diferentes e estranhas, e a vida já não tinha o mesmo sabor, nem o mesmo sentido muito menos as cores! Fui levada a um casal de estranhos, pessoas que eu nunca havia visto na vida, meus pais de criação, Jose Luiz e Julieta aos quais, me impuseram duas condições ou chamá-los de pais ou padrinhos, como o tratamento que eu recebia estava longe de ser tratamento dado á uma filha, escolhi chamá-los de padrinhos. Tratavam-me como se eu fosse um menino, o cabelo era curto as minhas roupas eram masculinas, e tinha que usar sempre chapéu, botina, e acompanhá-los na lida com a terra. Aos sete aninhos me fizeram uma grade graça, me puseram na escola no Patronato córrego da caçada município de Ituiutaba embora, eu andasse um pouco pelas rodovias até chegar á escola, apavorada e só, era um tempo preciso, para minhas idéias! Eu ia atravessando córregos, espilhôes, caçada, e grilos, córregos, onde trafeguei varias vez sozinha, sem companhia, com medo e tão pequena! Ás vezes, saia da rodovia e me escondia, quando via um carro estranho, um ciclista ou um andarilho, você não sabe se e um bandido, ou um solitário sem destino, sem lar e sem ninguém, e que encontramos muitos nas rodovias, e por alguma razão eu estava sempre caminhando em uma longa estrada, me sentindo pequena, retirante sem proteção e sem lar! Horas eu caminhava em direção a escola, indo á venda dos Grilos, que era muito longe, também havia horas em que eu fazia uns serviços estranhos, como vigiar carnes penduras ao sol pros cachorros não atacarem, e que meus padrinhos, quando não lidavam com a terra mantinham açougues, à beira da rodovia no córrego do espilhôes e na caçada! Por isto o meu olhar fixo á rodovia era minha sina! Eu parava e olhava distante, imaginando porque tudo que eu queria estava tão longe, havia sempre a imensa rodovia a minha frente, longa e sem fim, meus pés, viviam ardendo pelo cascalho quente, o cheiro do piche às vezes entranhado na minha respiração, o suor escorria em meu rosto ardendo a minha pele tão jovem e tão sofrida, com o sol e as picadas dos insetos. Ai de mim se eu não fosse pra rodovia vigiar as carnes ou catar as pedras! E como se não bastasse era meu dever amassá-las com o martelo, e arriar enormes tachos o que faziam geléia, fritavam carnes e toda banha que eles retiravam das vacas, e dos porcos. Em outra situação esta mesma rodovia já me enchia de esperança, eu me livrava dos serviços estranhos e domésticos e caminhava na esperança do aprender! Armazenando em minhas idéias os sonhos, atravessava córregos e mais córregos, de belas paisagens, cheias de palmeiras lindíssimas, me alegrava ver os pássaros, periquitos, papagaios e araras, em suas algazarras e vôos movimentando a paisagem no balanço das folhagens nas palmeiras, o que me mostrava muito forte o verde, a cor viva da esperança que, me despertava tamanha coragem em prosseguir, às vezes com medo da violência da rodovia e dos morcegos, que sobrevoavam dos bueiros, embaixo das pontes. Mas eu tinha que seguir contando a história no caderno, escondida e sufocada em meus pensamentos, até que eu aprendesse e reescreve- lãs, nas paginas brancas do papel, enfeitando com rimas e cores de tintas. A escola era a base, pra que eu chegasse di certa a forma a algum lugar, e entendesse por meio das palavras o que estava me acontecendo e ate onde eu poderia chegar, e tirar algo de bom de tudo aquilo. No Patronato aprendi a ler, tinha por colegas as crianças abandonadas pelos pais e pelo descaso do mundo, crianças que a vida maltratava, rebeldes não por serem maus, mas por algum motivo trágico do destino encontravam-se ali, aos cuidados do senhor João e dona Irene. Encontravam-se ali, para receber cuidados e amor, eles tinham alojamento, carinho, alimentos, estudo e em troca, davam o seu trabalho, cuidavam da chácara do Patronato, das hortaliças de onde retiravam parte de seu alimento, e nas horas do recreio conviviam com as crianças da vizinhança, eu era uma delas. A sala de aula, os recreios, as brincadeiras eram gratificantes, lembro-me dos gestos de carinho dos meninos comigo, beijinhos no rosto, e cartinhas amorosas de infância! Os garotos apesar de serem trazidos, das ruas, eram amigos normais como todas as crianças, que só precisam ser amadas. Na espoca ouvia-se muitos boatos tristes, não sei ate que ponto era verdades, mesmo assim causava-me indignação, ouvia dizer que o Sr. João ás vezes, amarrava algumas crianças levadas na arvore enquanto batia neles, o Ivo era uma destas crianças meu amigo e que eu gostava muito, havia rumores entre a criançada que eles ficavam de castigo amarrados á noite toda! Não sei ate que ponto isto era verdade, mas os meninos me contavam, tenho arrepios ate hoje em pensar ate que ponto essa crueldade seria verdade. Na época que eu estudei no patronato no córrego da caçada não havia meninas internas só as das redondezas e em horário de aulas! La eu aprendi a ter meu primeiro contato com outras crianças, meus primeiros professores, e também minha primeira catequese. Em colégio de padres, o ensino religioso começa quando começamos a ler o que acho muito valido, o compreender os sentidos da vida, tornando compreensível, salutar e aceitável o viver quando nos ensinam a fé, o poder, das promessas de Deus, e que ele não tarda em socorrer os seus filhos, os consola e ate premia os bons comportados, punindo às vezes aqueles filhos rebeldes, como todo bom pai faz, da um castigo, por que quer que o filho ande nos bons exemplos e siga seus ensinamentos! A catequese e isto nos mostram uma receitinha infalível o que eu posso e o que eu não posso fazer? Quais as conseqüências que terei se eu não obedecer ao meu pai, principalmente o meu paizão do céu? Porque e pai e criador de tudo e todos. Os dez mandamentos e sua doutrina são a base pra ser um bom filho, pois dele recebe todas as regras ditas por um pai, amigo, que esta acima de tudo e de todos, tudo, vê, conhece e sabe, pode e transcende o tempo e o espaço, estando em todas as partes, podendo ate caminhar nas rodovias, nas ruas e estradas desertas deste mundo, ao lado de uma menininha triste só e abandonada! No Patronato eu me achava no plano espiritual e no físico, nas aulas do português em minha primeira lição cartilha de Lala, aprendi uma oração, fazendo dela a minha oraçãozinha de todas as manhas tardes e noites, Já que ninguém me havia ensinando uma, e eu só sabia falar com meu Deus do meu jeito, fechando os meus olhinhos e elevando o pensamento a ele. Na catequese eu já tinha minha canção favorita e em oração eu cantava suavizando o meu peito: No orvalho da manha criança me fala do meu Deus musica linda do (Padre Zezinho) O cantar da vida mansa a canção que eu fiz para o meu Deus! A escola era tudo, aprender a orar, a cantar, o significado das palavras, em sua possibilidade de criação me encantava! Eu esperava ansiosa que a professora de educação artística dissesse: Vamos brincar de auditório quem se oferece a cantar aqui na frente? Eu era a primeira a me levantar e já tinha uma musica engatilhada parecia mais uma vitrola, e quando isto não acontecia, eu esperava ansiosa pela aula de português, e que não faltasse a tão esperada composição, chegava ate mesmo a sonhar com os temas e se a professora me mandasse escolher um, causava-me ate indecisão, com tantos títulos que eu já tinha em mente para desenvolver a minha história, rara era a vez que eu não ganhasse um dez ou que minha redação não fosse parar no mural da escola, mas a vida pra continuar sonhando, não foi favorável, trabalhei tanto, e fiz de tudo um pouco, e ás vezes eu passava um, até dois anos longe da escola. Isto foi um tempo sofrido e duradouro até o dia que eu resolvi fugir! Mas isto e outra história onde relato o meu encontro com minha mãe, e o retorno horas triste, alegre, e ate mesmo decepcionante ao seio familiar aos treze anos. Rosto de homem, mas o ‘’coração de menina’’que embora vivesse uma vida amarga só queria reencontrar seus traços no aconchego e abraços de tios, avós, primos, pai, mãe e irmãos...


Marlucia Divina da Silva